quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Powaqqatsi

Já disseram que um bom documentário parece ficção e que uma boa ficção parece documentário.
Às vezes isso acontece, mas não é uma regra.
Vamos falar hoje de Powaqqatsi, um filme bem diferente do comentado anteriormente (O Homem do Futuro).
Trata-se de um documentário, nem um pouco comercial, sem atores famosos, e não é um lançamento.
Powaqqatsi (Vida em Transformação) é uma produção americana de 1988 da mesma Golan-Globus que produziu filmes horríveis, inclusive os do Chuck Norris...
Vamos pular esta parte.
Até porque a produção do filme foi assinada por Francis Ford Coppola.
Pra começar seria bom dizer que deveríamos assistir mais documentários, nem que fosse para criar em nossa cultura cinematográfica, e em nosso ser, um maior equilíbrio entre realidade e ficção. Bobagem?
A nossa dose diária de ficção é enorme: novelas, filmes, propagandas, músicas, capas de revista, etc.
E a nossa dose diária de realidade vem quase sempre empobrecida e filtrada pelos noticiários de todos os tipos.
Aí, quando vemos mesmo a realidade não a entendemos, não interagimos, não a transformamos porque nossos olhos já não estão mais habituados a enxergá-la. Precisamos de um narrador, locutor, interlocutor, intérprete, tradutor ou âncora para decodificar, à sua maneira, um misterioso mundo da realidade, algumas vezes manipulada, inconsistente ou virtualizada. E nós mesmos é que abrimos mão deste poder há muito tempo, por comodidade, descaso ou preguiça, e isso virou hábito.
Mas não custa reagir, ver, pensar, questionar.
Não vamos mudar o mundo mas podemos pelo menos de vez em quando tentar vê-lo de verdade, como ele é.
Os bons documentários servem também para isso.
E neste aspecto Powaqqatsi é mestre.
Confesso que nas duas ou três primeiras vezes que tentei assisti-lo, em casa, tarde da noite, senti sono, principalmente no início, mas depois ele se tornou um dos meus preferidos, com o desfilar de imagens impressionantes de gente e lugares de vários cantos do mundo, em atividade, em movimento, com a brilhante trilha sonora de Philip Glass.
Este filme é o segundo da trilogia qatsi (koyanisqatsi e naqoyaqatsi) do diretor Godfrey Reggio, e nos impele ao exercício da percepção.
Sem o tradicional e batido recurso do narrador, a sucessão de imagens é que conta a história causando um distanciamento quase antropológico para que possamos ver as sociedades, neste caso as mais rudimentares, se debatendo em um mundo em constante transformação.
E aí podemos lançar também um olhar crítico e observador sobre nós mesmos e sobre o nosso tempo.
Viu? Nem doeu.
Recomendo para assistir e para ter em casa para de vez em quando assistir de novo.

Nos vemos na próxima sessão.

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